Como todos sabemos, a CF 2011 trata de um tema muito em voga, se não o mais
recorrente, na imprensa e nas discussões acadêmicas dos últimos anos: a questão de
aquecimento global e da devastação da biodiversidade. Além da Terra gemer em dores de
parto, nós (humanidade) poderemos sofrer com muito mais dores crônicas do que hoje.
A natureza, intrinsecamente bela, foi a primeira forma de revelação divina para nós. O
culto e/ou reverência à natureza estão presentes na cultura de todos os povos. Porém, a
comunhão perfeita com o resto da criação foi manchada pelo pecado da arrogância. Querendo
ser igual a Deus, não nos contentamos em ser Sua criação mais perfeita e subjugamos
florestas, rios, animais para nosso conforto. Custasse o que fosse. Nos vimos nus, vazios em
uma paisagem árida.
Infelizmente, caminhamos nesse sentido atualmente. Dentro da geografia já se fala até
do Antropoceno, termo criado para descrever uma Era Geológica em que a intervenção
humana, de tão profunda, deixará marcas no planeta que poderão ser vistas daqui muitos e
muitos anos, mesmo que já não estejamos mais por aqui. Por mais dura que seja a realidade, a
conscientização pelo nosso impacto no planeta, a diminuição do consumo de água e energia
elétrica, a reciclagem, a compra de produtos que “respeitam o meio ambiente” apenas
desaceleram a destruição em massa dos recursos naturais.
Todo o processo industrial ainda depende de métodos não sustentáveis, como o
petróleo. Mesmo que todos nós usássemos carros elétricos, por exemplo, a energia para
carregar as baterias ainda viria de fontes como as termelétricas, movidas a combustíveis
fósseis. Energia eólica, hidrelétrica ou termonuclear, que não jogam gases nocivos à
atmosfera, são inviáveis em muitas partes do planeta. Mesmo a comida que comemos, tem
aditivos ou embalagens oriundos do petróleo; até alimentos frescos, como verduras e frutas,
precisam de adubos ou pesticidas fabricados a partir de constituintes do petróleo.
Por mais desconfortável que isso seja, separar o lixo, evitar gastos desnecessários de
água e energia elétrica e usar o transporte público ao invés do carro para trabalhar não
resolvem o problema. São importantes, fundamentais. Mesmo assim, o problema é muito
maior. Diminuir os gastos de recursos naturais só retarda o processo destrutivo pelo qual o
planeta está passando. O processo industrial consumista, em que compramos as coisas por
imposição da cultura do ter, e não do ser, é que deve ser abandonado (Assista no Youtube o
vídeo “A História das Coisas” para entender melhor do que estou falando). Apenas uma total
reformulação no jeito que consumimos produtos e repensarmos nossos hábitos pode dar uma
chance à Terra de conviver de maneira saudável com os quase 7 bilhões de seres humanos que
nela habitam (e mais uns 3 ou 4 bilhões que virão até o fim do século,conforme se espera).
Como fazer isso? Militância política. Como criaturas sociáveis e políticas, devemos nos
impor para a indústria que só produz o vício em consumismo. Filósofos dizem que vivemos a
época de desilusão com as ideologias, após o fim da Guerra Fria. Querem ideal melhor que a
sobrevivência da vida no planeta e, ainda mais, da humanidade? Afinal, duvido que a Terra
não dará um jeito de curar suas próprias feridas abertas pelo nosso próprio pecado
(Vide “Hipótese de Gaia”, de James Lovelock). E, se ainda estamos numa Igreja que prega o
diálogo e a salvação do Homem pelo Amor, não temos motivos para sentar em nossos sofás e
ouvir os gritos de dor da Mãe Terra pela TV.
Por mais utópico que isso pareça (e de fato, é mesmo) levar o paroquiano a se
apaixonar (ou reapaixonar) pela sua casa é o caminho que nos resta, antes que seja tarde
demais. Ou então, esperamos por revoluções na Física que possam nos levar a outros planetas
habitáveis que nem sabemos se existem mesmo, para então continuar o processo mortífero na
casa dos outros. Prefiro apostar na primeira opção.
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